50 dias em cinco minutos

Ninguém para estar aos meus pés quando eu chegar. Ninguém para fazer barulho dizendo “atenta: há gente”. A casa, um vazio, um silêncio. Ninguém a me receber, a cuidar se o portão está fechado. Ninguém ao meu lado para ver TV ou esperando enquanto tomo banho.

A casa, um silêncio. Ninguém se coça para chamar a atenção nem me chantageia chorando baixinho. Ninguém a esquecer de dar de comer, ninguém indicando que acabou a água ou reclamando do gato que passa na rua, ou avisando do carteiro que chega ao meio dia, competindo aos berros quem fala mais alto.

Ninguém para reclamar que tardo em ir para cama. Ninguém para esquentar meu edredon ou me deixar sozinha quando o calor se intensifica no meio da noite. Ninguém tendo idéias de passeios às sete da manhã de domingo. Ninguém para às vezes ser meu filho.

Ninguém para secar minhas lágrimas docemente nem saltar ligeiro a me defender de qualquer perigo eminente; ninguém mal humorado e sempre disposto ao ataque. Ninguém passivo agressivo, ninguém contente jogando sozinho os brinquedos que trago. Ninguém para me ajudar com as sacolas quando chego do mercado.

Ninguém pra comer minha casquinha da pizza, levantar pra comer à noite, roncar de barriga para cima, reclamar quando quero mais espaço na cama, falar dormindo. Ninguém para dar beijo de bom dia.

Tudo porque levaram o Michel para o banho no petshop.


Para dar uma descontraída (Vácuo me deixava muito presa e intimidava) enquanto produzo outras coisas. ;)

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